segunda-feira, 7 de maio de 2018

   Hoje foi um daqueles dias estranhos.
Tudo pareceu mais distante, estranho. Como quando voltamos de uma longa viagem, ou voltamos a morar com nossa família. A casa é a mesma, os moveis os mesmos, o cheiro é o mesmo... mas algo está estranho. Uma dor de cabeça leve o mantém distraído, como uma ressaca na sexta, daquelas que você bebe, mas não o suficiente para herdar uma ressaca barra pesada. 
   Mas essa dor não é só física. É seu corpo reagindo a algo estranho, como se algum instinto ligasse pra te avisar que não tá tudo bem. E essa sensação parece que liga o pior em você. Seu sistema de defesa liga-se no máximo e a reação ao mundo e às pessoas ao seu redor é sempre a pior, não só agressivo mas irracional, O lado pé no chão e responsável da sua personalidade parece desligada, como alguém deslumbrado por um grande e belo quadro, ou quando ficamos hipnotizados com o movimento de um formigueiro recém atiçado.
   Você percebe que algo não está bem. O gosto das coisas não é mais o mesmo de ontem, o interesse se desfaz, a graça se perde. Mas estamos tão alheios a tudo que nem sabemos dizer o porquê. O dia passa, o trabalho acontece, a rotina se conclui, mas está cinza... sem gosto.. estranho.. e com aquela dor de cabeça ao fundo, como um sussurro ou uma interferência na rádio. baixo o suficiente para não chamar a atenção mas alto o suficiente pra ser percebido. Está lá.. como um grão de areia atrás do olho.. como um prego na parte mais grossa da sola do sapato, não te atrapalha completamente, mas incomoda o tanto certo pra te fragilizar.
   E essa fragilidade trás de volta coisas que jurava ter esquecido, perdido a algum tempo. Sempre há uma saída, uma solução... Alguns metros de corda, uma pesquisa rápida na internet sobre alguns nós específicos, uma base forte o suficiente e uma cadeira, e todo esse filme jamais se repetiria novamente. Pelo menos não aqui.

   Mas não hoje... por enquanto...